sábado, maio 20, 2006

Sempre a mesma paixão













Aveiro «cresceu». Deixou de ser aquela cidadezinha simpática, típica de província, e tornou-se num centro urbano moderno e desenvolvido.
Recordo o passado com nostalgia, mas olho para o presente com vaidade e para o futuro com optimismo.
Tenho saudades daquela Aveiro em que se jogava à bola no Largo de S. Gonçalinho e em que se pescava caranguejos nos canais da Ria, mas também sinto orgulho numa Aveiro mais cosmopolita, mais moderna e mais desenvolvida.
Guardo excelentes recordações das muitas tardes de glória, vividas no «velhinho» Estádio Mário Duarte, mas fico vaidoso ao ver o Sport Clube Beira-Mar jogar no novo e espectacular «Municipal» de Aveiro.
Gostava de ver o circo nos tempos da Feira de Março no Rossio, mas prefiro saber que, aquela que continua a ser a grande atracção anual da cidade, realiza-se hoje num espaço mais digno e com melhores condições.
A Praça do Peixe deixou se ser apenas um local de venda do peixe e assumiu-se como a zona de excelência de diversão nocturna.
Aveiro não tem hoje a tipicidade de outrora, mas oferece aos seus habitantes e a quem a visita, mais qualidade de vida. A cultura destaca-se. Mais cinema. O Teatro Aveirense recuperado. Galerias de Arte. O Centro de Congressos. O Estaleiro Teatral.
Aveiro consegue manter a tradição do bairro da Beira-Mar, mas olha para o futuro com esperança. São bairros novos que nascem. É a Universidade que se desenvolve e que se torna numa referência nacional. São as zonas pedonais que se tornaram realidade.
As salinas existem em menor número mas o esforço em preservar uma actividade secular mantém-se.
Aveiro não fugiu à regra e rendeu-se ao consumismo, no entanto, o artesanato, a gastronomia, e as tradições populares continuam vivas. O fast-food existe mas a caldeirada de enguias continua a maravilhar tudo e todos. Os ovos-moles continuam divinais e a festa das cavacas continua a ser a melhor do mundo.
Há muito que Aveiro deixou de ser a Lourenço Peixinho e pouco mais. Aveiro, sede de Concelho e Capital de Distrito deve assumir cada vez mais a responsabilidade de tornar-se a bandeira de uma grande região.
Uma cidade dinâmica onde a cultura é valorizada. Uma cidade com tudo o que as grandes cidades têm, sem que para isso haja perda de qualidade de vida. Uma cidade com comercio de qualidade e virada para o desenvolvimento industrial. Uma grande cidade.
Ontem e hoje. O mesmo encanto de sempre. Um vicio. Uma paixão eterna chamada Aveiro.

(texto a ser publicado no próximo número da revista «Pontes & Virgulas»)

2 comentários:

Terra e Sal disse...

Meu Caro Pedro Neves:
Efectivamente há sempre uma certa nostalgia quando nos voltamos para o passado da nossa cidade.
Mas isso é uma coisa natural, e cíclica na vida das terras e pessoas.
É a mesma que os adultos maduros sentem quando revivem o passado da sua meninice, bem diferente daquele que as crianças de hoje têm.

São flashes que ficam perpetuados na nossa memória, que nos acompanham sempre e se mantêm até ao fim da nossa velhice.
É um ciclo que não sabemos quando começou e não sabemos se algum dia acabará.
Era assim no tempo dos nossos pais, foi assim nos tempos dos nossos avós.

Somos conservadores por natureza.
Penso que se pudéssemos escolher, se puséssemos o nosso egoísmo acima do interesse da comunidade, haveriam coisas que se manteriam inalteráveis eternamente.

Quem é que hoje, adulto maduro, dos tempos em que não havia televisões, ou que só “meia dúzia possuíam” sentados à volta de uma lareira ou à volta da mesa da cozinha, geralmente espaçosas, não ouvia os seus avós, e mesmo os seus pais, a narrarem o tempo do antigamente com saudade?

Era uma miséria “franciscana” dizíamos ou pensávamos nós, confrangidos com tanta lamechice, das histórias vividas, dos tempos complicados e difíceis, das lamentações do sofrido, mas grande parte era bem valorizada, era mesmo de heroicidade para eles e para nós que ouvíamos.
Eram epopeias que mais tarde também nós, os mais novos a viríamos a viver, de uma maneira bem mais moderada.
Outros nos seguirão. É o ciclo da vida.

A nossa cidade está efectivamente diferente.
Ela esteve demasiado tempo estagnada.
Agora, os mais e menos velhos, em que existe uma geração de diferença, têm as mesmas recordações, inusitadamente.

Assim a estagnação a que esteve votada a cidade por um lado “egoisticamente” falando foi benéfica.
Já que, quando se começou a mexer de há meia dúzia a esta parte, tudo foi calculado e talhado com inteligência e a pensar no futuro de todos, dos presentes e dos futuros Aveirenses.
O arranque generalizado, para a fazer “saltar” Aveiro para a frente, foi inteligentemente estudado e do mesmo modo elaborado.
Hoje, tudo o que temos, do muito que ainda precisamos, é moderno e funcional.

E mesmo com a nostalgia e “egoísmo” que cada um de nós, “per si”, sente, temos de reconhecer que é surpreendentemente agradável e exemplar, para nós, para os vindouros e para quem nos visita.
É que estamos já num patamar avançado da vanguarda de tudo aquilo que a vida e a comunidade em que estamos inseridos nos exige.
Podemos recordar cada cantinho de Aveiro com saudade, mas tal como a casa que herdamos dos nossos avós, ela para ser útil à família tem de ser remodelada, deixando sempre o “toque” natural dos tempos em que “nasceu.”

Pé de Salsa disse...

Caro Pedro Neves,

Desde já os meus parabéns pelo texto que, parecendo longo, apenas resume (porque muito mais foi feito) o Aveiro de hoje e o Aveiro de meia dúzia de anos atrás.

Está muito bem escrito. Gostei.

Cumprimentos.